terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Alguma coisa acontece

Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João, é que quando eu "corri" por aqui eu nada entendi. Esta esquina está eternizada nos versos da belíssima canção "Sampa" do Caetano Veloso. Eu vivi a plenitude deste sentimento de não entender, e de alguma forma, passo a fazer parte desta eternidade, por ocasião da participação na 88ª Corrida de São Silvestre, ocorrida no último dia 31/12/2012. Dentre outras coisas:

Não entendi a dimensão da corrida. Não entendi, porque até então, nunca havia participado de um evento esportivo internacional. Se não no calendário, pelo menos pelo fato de contar com corredores de diversas nacionalidades, não somente brasileiros e Quenianos;

Não entendi a quantidade de corredores. Não entendi, porque por aqui, acho que nunca participei de uma corrida com mais de 2000 inscritos. Lá tinha aproximadamente 30.000;

Não entendi o fascínio do pessoal por esta corrida. Não entendi, como alguns atletas se submetem a sacrifícios inimagináveis (idade, necessidades especiais, fantasias, pesos, etc.) e cruzam a linha de chegada como os verdadeiros vencedores, senão da corrida, pelo menos do seu desafio pessoal;

Não entendi como o corinthians sendo tão amado, não é o maior de todos no Brasil (tinha mais corintianos que gente nesta corrida, desculpem-me, os coritianos);

Não entendi o envolvimento por completo de parte da população (residentes das imediações do percurso), incentivando a todo momento os corredores, chamando-os de heróis, guerreiros e coisas do tipo. Não entendi, porque por aqui, o som que a gente mais houve são as buzinas dos automóveis demonstrando a irritação e impaciência dos motoristas em relação ao evento;

Não entendi porque esta corrida me deixou tão emocionado, talvez pelo fato de representar um até breve ou mesmo um até nunca mais (a cura ou não da tendinite patelar, vai ditar a sentença).

Não tendo entendido tanta coisa, fica uma pergunta: será que entendi alguma coisa? Penso que sim, vejamos:

Entendi, que quando a gente quer e se dedica para, não tem nada que possa nos impedir de conquistar o nosso objetivo. Só para exemplificar, lembro que há algum tempo estou acometido por uma tendinite no tendão patelar do joelho direito. Em outubro de 2012, fui aconselhado pelo médico ortopedista a interromper por completo esta atividade de corredor. Como um verdadeiro apaixonado pelo ofício, relutei e não o atendi, prometi a mim mesmo que treinaria e participaria da última corrida, exatamente a São Silvestre. Foram três meses de preparação um tanto limitada pelas dores constantes durante os treinos. O percurso da corrida é de 15 km, ou seja 15000 metros. A minha passada, limitada pela dor não é maior que 60 cm, desta forma foram aproximadamente 25000 passadas durante a corrida (12500 com cada perna). Significa que cada uma das 12500 vezes que toquei o solo com o pé direito, o joelho doía, eu teimava comigo mesmo e prosseguia rumo à conquista do meu objetivo, que era cruzar a linha de chegada. Tempo, nestas circunstâncias era o que menos me importava, sobretudo depois de conhecer parte do percurso, principalmente a famosa subida da av. Brigadeiro Luiz Antonio. Cruzei a linha de chegada com 1 hora e 42 minutos após a largada, me sentindo um verdadeiro titã, um herói de mim mesmo, afinal venci, venci 12500 vontades de desistir. Suei, sofri, chorei, mas emoções eu vivi, e, foram muitas.

Entendi finalmente que, apesar da mania de a gente ficar quantificando valore$, em relação a estes eventos, existem coisas que não tem preço, como por exemplo a amizade do grupo de viajantes, a alegria de cada de estar ali, a grandeza do Léo como líder da equipe e dentre outras. Faria tudo de novo, não sei se vou poder, 2013 nos dirá...



domingo, 13 de janeiro de 2013

Eu era apenas um na multidão


Foram três meses focados de preparação com planilhas, treinamentos e exercícios. Tudo para um único objetivo, minha primeira São Silvestre. Já me sentia confiante, era agora apenas uma questão de "tempo".

Enfim o dia chega e estou eu lá, às oito da manha, numa Avenida Paulista assustadoramente já tomada por milhares de corredores. Nove horas em ponto a largada foi dada. Mas ao invés de correr a única opção era andar lentamente durante doze minutos até a linha de largada onde a multidão dispersou o mínimo suficiente para ser possível trotar.

Os cinco primeiros quilômetros foram difíceis não porque foi puxado, e sim porque não tinha como puxar e correr no meu ritmo! Por mais que o corpo (e o cronômetro) estivesse pedindo foi muito difícil imprimir uma velocidade maior, tamanho era o aglomerado de pessoas.

Quilômetro sete, o caminho ficou mais livre, já era possível aumentar as passadas. O desgaste inicial já começa a ser anestesiado pela endorfina. E da multidão cansada já não se ouvia mais os gritos eufóricos dos primeiros quilômetros, agora era apenas o silêncio ritmado das passadas no asfalto.

Quilometro dez, muitos olham nos seus cronômetros e conferem se estão dentro do planejado. Alguns poucos se dão ao luxo de diminuírem o ritmo, alguns mantém a passada e outros (no qual faço parte) aumentam o esforço e o ritmo na tentativa de recuperar o tempo perdido no inicio da prova.

Quilometro treze, somente dois quilômetros me separam do meu objetivo. Olho para o cronômetro e me restam apenas nove minutos do tempo que planejei. Já cansado tenho que mais uma vez aumentar o ritmo e correr cada quilômetro em quatro minutos e meio. Mas o problema, o crescente problema, é que aqui começa a difícil subida da Avenida Brigadeiro. É aqui que realmente todo o treinamento é colocado a prova.

Correndo contra o relógio, contra a subida e contra o forte cansaço vou conquistando a Brigadeiro. O esforço, e principalmente a concentração, são essenciais para manter o ritmo alto mesmo na subida. Olho para o cronometro novamente, cada segundo começa a fazer diferença.

Nesse ponto uma simples passada é um evento isolado de esforço; a respiração não é mais disciplinada; o ácido lático te faz lembrar de cada fibra muscular das pernas; pensar em aumentar a velocidade já é suficiente para te deixar mais cansado; você não usa mais nenhuma técnica, apenas corre; mas o corpo pede para parar!

E na hora que mais o corpo está pedindo para parar eu vejo a linha de chegada. Isso me deu uma motivação e força extra me fazendo correr mais rápido até cruzar a linha de chegada quatorze segundos acima do tempo que queria.

Feliz em completar a prova e feliz em ter agora quatorze segundos de motivo para voltar em uma próxima edição, pego minha medalha e me despeço com orgulho da multidão, pois apesar de ter sido apenas um, o importante foi ter feito parte dela.

Leonardo Teixeira Queiroz